Partire è un pó morire, dice l’adagio, ma è meglio partire che morire.”

(Carrara, na peça teatral Merica, Merica)

quinta-feira, 26 de janeiro de 2012

Os Italianos e a Vitivinicultura em São Roque



A vitivinicultura em São Roque desenvolveu-se em três fases distintas até atingir seu apogeu, com as Festas do Vinho, entre meados dos anos de 1950 e 1970.
As primeiras vinhas foram plantadas pelo fundador Pedro Vaz de Barros, que trazia de Portugal o hábito de produzir o vinho para consumo próprio. Nessas vinhas trabalharam os índios guaianazes, nativos da região.
Com o início da imigração italiana, ao final do século 19, inicia-se a segunda fase da vitivinicultura em São Roque. Entre 1885 e 1890, o plantio da uva e a produção de vinho renascem, no início a título experimental e, posteriormente, constituem a principal fonte de riquezas do município. Nesse período, vários lavradores, sobretudo italianos e portugueses, iniciam simultaneamente suas atividades no ramo vitivinícola, sendo considerado um dos pioneiros, o italiano Giuseppe Casali.


Vinhedo em São Roque, 1947 - Acervo original: Antonio Maria Picena



OS PIONEIROS

O relato de um velho morador de São Roque não identificado, registrado no livro comemorativo ao III Centenário de Fundação da Cidade de São Roque, publicado em 1957, diz sobre os primeiros viticultores italianos:
“Os primeiros italianos que se estabeleceram em São Roque, foram aqueles que acompanharam o snr. Enrico Dell’Acqua, que implantou a primeira fábrica de tecidos, hoje a grande Brasital S/A. Entre outros lembro dos snrs.: F. Tagliassachi, Bonini, Reviglio, Caproni, Rizzo, Capuzzo, Perroni, Giudica, Collo, Rigolim, Rampini, Girardello, Verani, Salvetti, etc; a maior parte destes vindo de Biella em Piemonte, Itália, (...) e da cidade de Lucca em Toscana. Com o passar do tempo alguns deles tendo comprado seu pedaço de terra, iniciaram a plantação de videiras, e de quase todas as variedades: Niágara e Isabel, adquiridas do ilustre viticultor sr. F. Marengo, e assim também principiaram a fazer um pouco de  vinho para uso caseiro, como estavam acostumados na Itália.”

Prefeito Bernardino de Lucca ao centro - Festa da Vindima 1947


PRODUÇÃO RACIONAL

Em 1934, a vitivinicultura em São Roque entra em sua terceira fase, com produção racional, apoiada pelo poder público municipal e estadual. Houve isenção de impostos para grandes e pequenos agricultores, com assistência técnica ministrada por agrônomos especializados; e o governo do Estado instala em São Roque um Posto de Análise do Vinho.
A Cooperativa Agrícola e Vinícola de São Roque, fundada nesse período, contribui para o aprimoramento da qualidade dos vinhos são-roquenses, incentiva sua fabricação com a promoção de palestras e cursos de enologia.
Entre o grupo de técnicos que dá suporte a essas atividades, destaca-se o italiano Antônio Maria Picena, naturalizado brasileiro, mas proveniente de Nizza Monferrato, na Itália. Nascido a 22 de junho de 1899, diplomou-se em Enologia em Alba. Chegou ao Brasil em 1923, instalando-se em Malilasqui, onde passou a dedicar-se à então incipiente indústria vinícola local. Em 1933, lança as bases da Cooperativa Agrícola e Vinícola de São Roque onde atuou em prol da vitivinicultura.
Em 1936, é fundado por membros das colônias italiana e portuguesa, o Sindicato da Indústria do Vinho de São Roque, do qual um dos fundadores foi Vitório Vigliotti. O sindicato viria reunir os produtores vitivinícolas e impulsionar a produção de vinho, principalmente com sua reestruturação ao final da década de 1950.

Festa da Vindima - R. 15 de Novembro com Praça da Matriz 1947


A HEGEMONIA

Na década de 1940, a vitivinicultura encontrava-se em São Roque em fase de ascensão econômica. Em 1942, realiza-se a primeira Festa do Vinho e da Uva, cujo desfile de carros alegóricos foi patrocinado pela indústria Cinzano.
Mas é em meados da década de 1950, quando as nações recuperam-se da crise econômica originada com a Segunda Guerra Mundial, que a indústria vitivinícola inicia o seu apogeu em São Roque.
Nessa época, a colônia italiana representava importante papel na produção de uva e na indústria vinícola. Entre as produtoras do vinho de São Roque, de origem italiana, estavam as Cantinas: Collo, Guaianazes, Grisan, Pennone, Picolino, Primo, Rampini e Spaggiari.
O plantio de uvas e a produção de vinho, em 1957, dividia-se entre imigrantes e seus descendentes, membros das colônias italiana, portuguesa, espanhola e alemã. Numericamente, produtores das colônias italiana e portuguesa igualavam-se. Porém, Na produção, tanto de uva quando de vinho, os italianos contribuíam com cerca de 50% do total, ficando a outra metade com as colônias portuguesa, espanhola e alemã, em ordem decrescente de participação na produção.
Nesse ano, a colheita de uva no município de São Roque atingiu a cifra de pouco mais de 9 milhões de quilos de uva, sendo 4,4 milhões produzidos pela colônia italiana. Na fabricação de vinho, São Roque produziu, em 1956, cerca de 6,6 milhões de litros de vinho, sendo oriundos de adegas da colônia italiana pouco mais de 3 milhões.
Contribuíam para esse resultado os produtores de origem italiana: Baglini, Bertuccelli, Bruni, Capuzzo, Cinzano, Cocozza, Collo, Donalisio, Fasoli, Fontana, Foroni, Geli, Grisan, Júdica, Lucca, Millioni, Nacca, Nardelli, Patto, Pennone Perim, Peroni, Primo Negro, Rampini, Rebucci, Sabattini, Sandroni, Santucci, Sarcinelli, Spaggiari e Zocca.
E São Roque ficou conhecida em todo o Brasil como a Terra do Vinho. Salute!


Festa da Vindima, 1947 - Acervo original Antonio Maria Picena

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